
Deve uma equipa privilegiar, em regime de exclusividade, o resultado, custe o que custar, sem preocupações de brilhantismo, ou procurar dar espetáculo enquanto se fixa na vitória, a tal nota artística que Jorge Jesus trouxe para o léxico futebolístico, mesmo que essa escolha acarrete mais riscos?
«A forma como gostamos de jogar é com a bola. Ganha-se de maneiras muito diferentes, não há fórmulas mágicas. A solução é fazer o que sentimos», defende Pep Guardiola, enquanto Sérgio Conceição, direto ao assunto, considera que «o tiki-taka é meter a bola lá dentro».
Poucos debates são, simultaneamente, tão antigos e atuais como a definição do caminho para chegar ao Olimpo. A questão ultrapassa fronteiras, mas ganha relevância no nosso futebol agora que Sporting, Benfica e FC Porto, os três primeiros na Liga 2024/25, investiram cerca de 300 milhões de euros em plantéis recheados de talento em busca do objetivo mais apetecido. É, pois, legítimo que os adeptos — pagam quotas, bilhetes e financiam direitos televisivos por verbas astronómicas… — se perguntem: afinal, o que se exige a uma equipa grande?
Os resultadistas têm um argumento poderoso: no fim, o que conta são as vitórias. Quantos se lembram hoje da qualidade estética de alguns campeões? O troféu ergue-se, os sorrisos ficam para sempre na fotografia e o resto esbate-se com o tempo. Os defensores do espetáculo contrapõem que o futebol é uma arte que nasce do risco, da ousadia, do improviso criativo, engodo que arrasta multidões e fideliza novas gerações. Ganhar é bom, sim, mas encantar é o que transforma triunfos em lendas
«O futebol é, antes de tudo, uma emoção. Se não emociona, não é futebol», sentencia Jorge Valdano, antigo avançado campeão mundial pela Argentina, ao lado de Diego Armando Maradona, em 1986, que, terminada a carreira, deslumbra-nos com uma visão única sobre o desporto-rei, «apenas uma desculpa para sermos felizes», conforme sintetizou com a habitual genialidade.
A diferença entre simplesmente conquistar, o verbo que todos desejam conjugar, e inspirar, opção que perde força se não vier acompanhada com uma taça na mão. No contexto português, se um clube dito pequeno luta pela permanência compreende-se que o resultado esteja acima de tudo. Mas quando falamos do triunvirato todo-poderoso a exigência terá de ser maior. A indústria não perdoa derrotas, os treinadores vivem reféns da tabela, os adeptos têm pouca paciência para projetos longos. É mais fácil ser resultadista num calendário competitivo e implacável. Mas a grandeza mede-se pela capacidade de resistir.
«O resultado é uma tirania que empobrece o futebol», eis Valdano de novo. A solução talvez esteja no equilíbrio. Não se trata de escolher entre vencer ou jogar bem, apenas de reconhecer que o verdadeiro sucesso exige os dois, como destaca o escritor que vale a pena citar: «Que ninguém se engane, quando se perde uma partida ou um campeonato, haverá outras oportunidades; quando se perde o estilo, perde-se tudo.»
O bom futebol é também um ativo financeiro. Os jogadores que brilham em campo valorizam-se, tornam-se apetecíveis para os mercados endinheirados e geram receitas. Uma equipa que encanta atrai patrocinadores, vende camisolas, cria mitos que correm mundo.
Ao cuidado, portanto, de Rui Borges, Bruno Lage e Francesco Farioli, todos com ovos suficientes para fazerem omeletes gourmet em 2025/26.
A última vez que vi Sporting, Benfica e FC Porto a aliarem eficácia e beleza? Os leões nos primeiros meses da época passada, até à saída de Ruben Amorim para o Manchester United; as águias na metade inicial de 2022/23, sob as ordens de Roger Schmidt, pilhas que perderam energia assim que Enzo Fernández rumou ao Chelsea; os dragões em 2021/22, liderados por Sérgio Conceição, traído pelo adeus de Luis Díaz, em janeiro, para reforçar o Liverpool.